- Mari? Você ouviu seu pai te chamando?
- Hãm?
- Você não ouviu ele te chamar?
- Ele me chamou?
- Sim.
- Ah!
Alguns minutos depois, acende-se a luz:
- Mariana, vai querer ir no churrasco na lanchonete comigo?
- Vou sim pai.
- Então levanta logo dessa cama que já são meio dia e meia.
Levantei, tomei café, me arrumei, dei um abraço na mana e fui pro churrasco.
Tava lá sentada, tomando minha coca cola e conversando com a tia quando ela diz:
- Ele chegou.
Aquele maldito silencio pairou sobre o local onde estávamos, olhei para a porta da cozinha e avistei meu avô abraçando alguém que não consigo recordar quem era. Nossa mas o que meu vô estava fazendo lá? Ele nunca participava de nada da família, nem na minha festa de 15 anos ele foi. Fiquei calada. O vi cumprimentar todos os presentes e vir por ultimo na nossa mesa, levantei e dei-lhe um abraço.
- Nossa, custa tanto assim perguntar como anda seu avô, menina?
- Desculpa vô, é que eu tava no meio de um show e precisava falar urgente com meu pai, não tava ouvindo direito o senhor no telefone. Mas como o senhor esta?
- é...
Sentou-se na nossa mesa. Minha tia lhe trouxe um prato de comida.
- Quer comer um pouco?
- Não vô, brigada, já comi.
- Quer um pouco de guaraná então?
- Brigada vô, to tomando coca!
- Hum...
Comeu algumas garfadas e retomou o dialogo.
- E esse seu brinco menina? Isso é coisa que se use? Parece uma roda de caminhão.
Engoli a risada e lembrei como ele sempre encanou com esmaltes escuros, brincos grandes e roupas curtas e respondi:
- Desculpa vô.
- Alininha – minha prima – você não acha demais usar um brinco como esses?
- Acho tio.
Nos entreolhamos, não levaríamos essa discussão adiante.
Seguiram-se alguns minutos de silencio, onde só observávamos ele comer. Ai do nada ele fala:
- Relaxem, daqui pouco tempo não estarei mais entre vocês.
Engoli em seco, eu e todas as pessoas que estavam em volta.
- Que horror pai – disse minha tia.
- Bate três vezes na boca vô! - disse, batendo três vezes na mesa de madeira.
Aposto que assim como eu, todo mundo ficou pensando em como de certa forma ele poderia ter razão.
Segurei pra não chorar, e tomei meu copo inteiro de coca cola, talvez pra ver se aquele clima passava.
Depois de um longo tempo, olho pro meu pai e meu tio conversando e os vejo comentando:
- Eu vou trabalhar.
- Eu também, mas pode deixar que eu dou um jeito de levá-lo pra fazer a radioterapia.
Acho que ai que caiu minha ficha. É grave e quando a gente menos esperar pode dar tudo errado.
Não sei como eu to agora, não sei nem como to conseguindo falar sobre isso, prefiro que não me vejam chorando, principalmente meu pai que é tão apegado ao meu vô, preciso ser forte para poder ajudá-lo, mas as vezes a tristeza é maior.
Que Deus nos proteja e nos de forças.
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